Francisco Madureira
Editor do UOL Tecnologia
USABILIDADE |
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Axel Meyer, designer-chefe da Nokia |
Axel Meyer, chefe de design da Nokia mundial, acredita que o mais importante é a oferta diversificada aos clientes e é papel do design permitir que as experiências proporcionadas pela tecnologia cheguem até eles. Os desafios são grandes: tamanho da tela, compactação de padrões, formas de acesso; tudo para permitir que o celular alcance de vez o posto fixo de PC portátil. Veja entrevista exclusiva de Meyer por e-mail para o UOL Tecnologia.
Os celulares têm cada vez mais recursos de computador, só que com menos teclas e tela menor. Como o design pode contribuir para a usabilidade nesses aparelhos?
O design tem de permitir as experiências proporcionadas pela tecnologia. O mais importante é desenvolver um conteúdo adequado para o tamanho da tela. Espaços menores exigem projetos especiais. Além disso, o celular também possibilita que o consumidor projete seu conteúdo em uma tela maior. Depende da necessidade de cada um.
Em mercados como o brasileiro, muitas pessoas usam apenas as funções de voz. Isso acontece por dificuldades de uso do aparelho?
Não exatamente. Existem vários fatores que podem influenciar a utilização de outros recursos, além de voz, nos aparelhos: custo dos serviços, conhecimento da existência do serviço, conhecimento de como utilizá-lo, necessidade de uso, etc.
O uso de Internet e de celular (ao menos dos serviços de valor agregado - além da voz) é relativamente recente no Brasil, mas os brasileiros estão adotando estes serviços em um número e freqüência de utilização cada vez maior.
Em mercados como o brasileiro, existe preferência por flip ou slide? Que fatores influenciam esta decisão?
O mercado brasileiro é muito eclético em relação ao formato dos aparelhos celulares e os fabricantes como a Nokia oferecem uma grande variedade de design e estilos para atender a esta demanda. Os três principais formatos adotados pelos brasileiros são o barra, fold (ou clam shell) e o slide.
Existem vários fatores que influenciam a decisão de opção por um determinado formato: design, modo de utilização, funcionalidades/recursos, modo de viver, etc.
Desde que nasceram, os palmtops conversam com os PCs. Por que a indústria de celulares demorou tanto para adotar padrões de comunicação consolidados no mundo do PC, como o USB e o Wi-Fi?
Não demorou tanto. A questão é colocar os padrões em formatos tão compactos. Não importa a tecnologia, mas a oferta de experiências para as pessoas. Tudo chega em seu tempo.
Com mais memória e recursos multimídia, o celular está assumindo a função de câmera digital, tocador de música e palmtop. Os palmtops há tempos já trabalham com tela sensível ao toque e canetas stylus. O iPhone agora aboliu a caneta e os botões e pensa em interfaces diferentes para cada aplicativo. Qual é a próxima fronteira na usabilidade do celular?
O caminho é a flexibilidade e poder oferecer aos consumidores a possibilidade e escolher a interface que desejar. A flexibilidade é fundamental usando touch, sensores ou teclas. A mobilidade tem de ser flexível, humana, natural e intuitiva.
Cada vez mais o usuário pode acessar a Internet pelo celular, mas as telas são pequenas e muitos sites não possuem versões para celular. Que recursos podem ajudar os usuários (disponíveis e em laboratório)?
A Nokia tem trabalhado constantemente para ampliar a experiência de navegação do usuário e, certamente, podemos dizer que temos o melhor browser de navegação para este tipo de dispositivo móvel, além de telas amplas que facilitam a visualização. Além disso, oferecemos o aplicativo mini-map (disponível em vários modelos Nokia Nseries), que dá ao usuário a opção de navegar na página inteira ou com foco em um detalhe.
O Nokia N95 também possui um recurso que 'fotografa' as páginas pelas quais você passou para que não seja necessário voltar uma por uma para chegar àquela que mais lhe interessou. Também podemos destacar o recurso de TV-out (para Nokia N95 e Nokia N93), que permite que o usuário conecte o aparelho diretamente ao televisor.
Como é o processo de criação de um celular? De onde partem as idéias iniciais, da equipe de hardware, de software ou do time de design?
Tudo começa na observação, na avaliação das tendências globais, regionais e locais. Temos uma equipe que une de designers a programadores e antropólogos. Estamos interessados em saber quais serão as experiências das pessoas no futuro, considerando os serviços, as telecomunicações e a interface.
O celular pode substituir o computador? Quando?
Depende das necessidades de cada consumidor. Em muitos casos, o celular já substitui um PC, porque o celular também pode ser um computador multimídia. Os aparelhos Nokia Nseries, por exemplo, são sofisticados, oferecem muitas funcionalidades e ainda são discretos. Esses dispostivos permitem uma boa experiência de navegação na internet.
O anúncio do iPhone mexeu com o mercado de telefonia móvel. Uma pesquisa divulgada na semana passada mostrou que, mesmo antes de chegar à lojas, os consumidores já o consideram mais modernos do que os celulares que já estão disponíveis. A Nokia vê o iPhone como uma ameaça?
Não. Ficamos satisfeitos em ver que a Apple compartilha a visão da Nokia em relação a dispositivos móveis convergentes - e por acreditarmos no potencial deste tipo de produto oferecemos ao consumidor uma linha inteiramente dedicada a isso (os modelos Nokia Nseries). Em 2006, a Nokia foi o maior fabricante de câmeras fotográficas (140 milhões) e dispositivos musicais (70 milhões) e nossa aposta é que este mercado crescerá cada vez mais.
Como a Nokia vê o futuro do software livre embarcado no celular? No PC há a expectativa de programas de sincronização de conteúdo do celular para o sistema Linux?
Todas as plataformas são válidas, principalmente se forem abertas. A Nokia, por exemplo, utiliza muito o Symbian. Com a evolução das tecnologias, acredito que as plataformas poderão ser sincronizadas.
O projeto do laptop de U$100 tem tido grande repercussão na mídia brasileira. Você acredita que o celular também pode ser um veículo de inclusão digital? A Nokia possui alguma política nesse sentido?
Em muitos países, o celular já tem sido utilizado como uma ferramenta de inclusão digital com subsídios adotados por operadoras e incentivos fiscais oferecidos por governos. No futuro, o acesso à Internet em banda larga será possível até mesmo nos dispositivos de entrada.
Existe muita expectativa no Brasil em relação ao Wi-Max. Como você vê a adoção desta tecnologia nos telefones celulares?
A tecnologia WiMax estará disponível no médio prazo em telefones celulares. A Nokia participa do WiMax Forum e colabora com o desenvolvimento desta tecnologia e entende que o WiMax, assim como ocorre com o WLAN/Wi-Fi hoje, será complementar às tecnologias celulares existentes (3G e 3.9G).
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